“A Avaliação de Desempenho é um instrumento
de apoio à gestão e um factor de mobilização em torno da missão dos serviços e
organismos e por isso, deve ser visto como um estímulo ao desenvolvimento das
pessoas e à melhoria da qualidade dos serviços” (Suzana Alves da Silva Toscano,
ex-Secretária de Estado da Administração Pública).
Registos históricos
do século IV mostram que os jesuítas que partiam para as suas missões
religiosas nos países colonizados já eram submetidos a processos de avaliação
sobre a sua atuação. Santo Inácio de Loyola utilizava um sistema de avaliação
combinado, composto por relatórios, notas das atividades desenvolvidas e de uma
avaliação potencial de cada um dos jesuítas. As avaliações aconteciam através
de Auto classificação feita pelos membros da ordem, relatórios de cada
supervisor a respeito das atividades dos seus subordinados e relatórios
especiais feitos por qualquer jesuíta, que acreditava possuir informações sobre
o seu próprio desempenho dos seus colegas (Lucena, 1992; Dutra, 1998).
A primeira tentativa
de avaliar o desempenho de funcionários foi nos Estados Unidos em 1842, quando
o Serviço Público Federal implementou um sistema de relatórios. O mesmo
aconteceu no Exército Americano (Chiavenato, 1995; Dutra, 1998). Mas, antes de
conhecer os caminhos traçados pela Avaliação de Desempenho dentro das
organizações, é importante observar em que momento histórico estava a ocorrer,
a fim de compreender o papel que ocupava no espaço organizacional.
Durante a segunda
metade do século XVIII, na Inglaterra, uma série de transformações no processo
de produção de mercadorias, deu origem ao que se convencionou chamar de 1ª
Revolução Industrial. Antes desse processo eram as oficinas artesanais que
produziam grande parte das mercadorias consumidas na Europa. Com a Revolução
Industrial a chegada de novas tecnologias e de novas máquinas fez com que a
produção fabril concorresse com o trabalho artesanal, levando-o à ruína. Os
antigos artesãos tornaram-se trabalhadores assalariados, e submeteram-se ao
controlo do capitalismo.
A visão de
Frederico, o Grande, de um exército “mecanizado” tornou-se gradualmente uma
realidade, tanto nas situações de fábrica, como nas de escritório.
Este crescimento de
mecanização das indústrias está intimamente relacionado com a proliferação de
formas burocráticas de organização.
Max Weber, concluiu
que as formas burocráticas, rotinizam os processos de administração assim como
as máquinas rotinizam a produção. No início do século XX surgiram estudos
feitos por teóricos e profissionais em administração da América do Norte e da
Europa, o que deu origem à Escola Clássica da Teoria Administrativa,
constituída pela Administração Científica, cujo principal representante é
Frederick Taylor, e pela Teoria Clássica, representada por Henry Fayol.
Nos tempos mais atuais,
a primeira indústria de que se tem conhecimento, da implantação da Avaliação de
Desempenho, foi da General Motors, que já em 1918 tinha um sistema de avaliação
para os seus executivos. Contudo, somente após a Segunda Guerra Mundial é que
os sistemas de Avaliação de Desempenho tiveram uma ampla divulgação nas
organizações, pois mais do que nunca as empresas precisavam de se reestruturar
e garantir o aumento da produtividade, através de sistemas de controlo dos seus
empregados. A ênfase mecanicista das organizações, além de possuir um efeito
desumanizante sobre os empregados, pois procura reduzi-los a máquinas, pode
ainda criar um sistema de competição entre pessoas da mesma organização, uma
vez que a especialização funcional fragmenta os elementos da missão global da
organização. Além disso, as estruturas hierárquicas introduzem um sistema de
carreira no qual os indivíduos competem por lugares limitados mais altos na
hierarquia. A Avaliação de Desempenho colabora diretamente com este processo na
medida em que ordena os trabalhadores numa classificação que vai até ao último
colocado, apontando aqueles que são merecedores de premiações ou promoções.
Esta visão burocrática e mecanicista expandiu-se por todo o mundo civilizado,
deixando a sua marca através dos tempos, até aos dias atuais.
Assim, pode-se dizer
que Avaliação de Desempenho consiste na aferição dos graus em que o
comportamento do funcionário tende a atender às exigências da sua situação
funcional, na análise de qualidade e das características do seu desempenho,
objetivando a orientação e o aproveitamento do mesmo em funções que melhor se
adaptem às suas capacidades e aptidões, dando-lhe oportunidade de conhecer e
corrigir as suas deficiências e aproveitar as suas potencialidades.
Muito mais do que
medir eficiência, a Avaliação de Desempenho é um instrumento para promover o
aperfeiçoamento do funcionário, levando em conta fatores motivacionais e de
interesse comuns entre este e a organização, sendo capaz de atender a diversos
objetivos ou propósitos (Lucena, 1977; Bergamini, 1988). Eles são:
1. Definir
e mensurar o grau de contribuição de cada empregado na consecução dos objetivos
da empresa;
2. Descobrir
talentos e potencialidades, oferecendo oportunidades para que o potencial se
manifeste;
3. Posicionar
o funcionário num trabalho em que possa render mais e estar mais satisfeito;
4. Subsidiar
as ações de desenvolvimento, tendo em vista a capacitação profissional dos
empregados;
5. Facilitar
o planeamento de ações para corrigir desempenhos ou para assegurar o
aperfeiçoamento em determinadas áreas do seu trabalho;
6. Subsidiar
os processos de promoção, progressão salarial e carreira profissional, que
utilizarão os resultados da Avaliação de Desempenho de acordo com as normas
estabelecidas para este fim;
7. Possibilitar
ao empregado a identificação e busca dos meios necessários ao
auto-desenvolvimento, através da sua participação e conhecimento dos resultados
da avaliação.
Desta forma, é possível
afirmar que a Avaliação de Desempenho apresenta vantagens para toda a
organização, desde que elaborada e implementada de maneira coerente com o que
ela se propõe, ou seja, respeitar as premissas apresentadas na conceituação do
que é esta ferramenta. Todavia, é fundamental que os objetivos da Avaliação de
Desempenho estejam bastante claros e interiorizados em todos os níveis da
organização.
Estratégias para a Implementação da Avaliação de Desempenho
Não é raro surgirem
iniciativas bem-intencionadas fracassando por falta de visão realista da
organização, ou seja, dos verdadeiros valores e pressupostos que a movem, e dos
obstáculos que aparecem frente a novas propostas de funcionamento. Isto
significa que é necessário diagnosticar com cuidado o ambiente organizacional e
as características relevantes da sua cultura.
De acordo com Lucena
(1992), são três os modelos predominantes de perfil empresarial, no que se
refere à implantação da Avaliação de Desempenho. O primeiro refere-se às
organizações tradicionais, onde frequentemente se encontram indicadores que
parecem ser inadequados frente às exigências do mundo moderno, tais como, o
autoritarismo, o paternalismo, a centralização, o comodismo, a hierarquia
rígida, o estilo burocrático e centralizador.
O segundo modelo
constitui-se das organizações que estão à procura da modernização, ou seja,
organizações que estão num processo de transição do modelo tradicional para um
modelo avançado.
Normalmente encontram uma
série de resistências para efetuar as mudanças, sendo que em alguns sectores se
costuma aderir aos novos valores mais rapidamente do que em outros, causando um
certo desnivelamento dentro da organização. No que diz respeito à implementação
da Avaliação de Desempenho, sugere-se que seja identificado o melhor momento
para isso, pois a pressa pode comprometer o sucesso da transformação.
Finalmente, o terceiro modelo é constituído pelas organizações avançadas, que
são abertas à inovação e às mudanças qualitativas do ambiente, do mercado, da
organização do trabalho, portanto, contam com colaboradores motivados e
altamente qualificados no seu quadro de pessoal. Nas organizações avançadas, o
processo de Avaliação de Desempenho passa por adaptações ou aperfeiçoamento em
termos qualitativos.
Considerando estas
peculiaridades de cada modelo de organização, obtêm-se experiências de sucesso
e de fracasso na implementação da Avaliação de Desempenho. Consequentemente,
para que a Avaliação de Desempenho obtenha sucesso, é fundamental que a decisão
originária parta da alta administração, presidente ou diretor.
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