quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Desempenho Profissional e Produtividade


Ao longo dos tempos, como já referimos, muitos estudiosos se têm vindo a dedicar a esta temática. Podemos afirmar que a motivação e a satisfação serão no âmbito do comportamento organizacional dos temas mais estudados; contudo a quem deverá interessar verdadeiramente a falta de satisfação dentro das organizações, será aos seus líderes e às próprias organizações.

Um líder eficiente deverá ter a preocupação em analisar o comportamento dos seus colaboradores, pois só assim terá dados para poder tomar medidas, caso necessárias, na persecução da tão desejada e falada política dos três E’s (Economia, Eficácia e Eficiência).

O papel do gestor (líder) dentro de uma organização será o de conceber e levar à prática estratégias que façam com que os trabalhadores da organização aprendam e traduzam em ações sob a forma de comportamentos produtores de valor acrescentado, num contexto de trabalho o seu real potencial (Dias, 2007).

Para que um trabalhador sinta que o seu trabalho é relevante, é necessário que essa informação lhe seja transmitida pelos seus superiores hierárquicos. Nem sempre os gestores têm os colaboradores certos para as funções adequadas, especialmente na Administração Pública onde vigorou o “emprego para a vida”, em que as pessoas foram admitidas com baixas habilitações académicas. Com o aumento da idade da reforma e com a evolução tecnológica das últimas décadas, torna-se necessário manter estes trabalhadores aptos (reciclando-os através de formação profissional), auscultando as suas opiniões e dando-lhes feedback sobre a qualidade do seu trabalho. Com estes pequenos gestos, o gestor poderá contribuir para o aumento da satisfação do trabalhador.

Para que isto seja possível os gestores não devem apenas “… planearem, dirigirem e controlarem a realização do trabalho. Em simultâneo, têm que aprender a transformar o potencial dos seus colaboradores em competências úteis para a empresa, para si próprios enquanto hierarquias e para os colaboradores enquanto profissionais”. (Dias, 2007:24).

Embora não exista correlação empírica entre a satisfação e o desempenho organizacional, para os gestores o desempenho é visto como mais do que a produtividade abrangendo comportamentos próprios do papel e extra-papel que cada subordinado desempenha (Cunha et al., 2004).

Apesar desta inexistência de correlação, a maioria dos estudos indicam que os trabalhadores que melhor desempenham as suas funções e, consequentemente, recebem recompensas adequadas, têm níveis de satisfação elevados (Caldwell e O’Reilly, in Ferreira et al. 2001). No entanto, para Cunha et al. (2004:137) “… trabalhadores mais satisfeitos não são necessariamente os mais produtivos”.

Por outro lado, para os mesmos autores “Acresce que, mesmo os estudos denotativos de uma relação significativa positiva podem ser interpretados de um modo colidente com a lógica presumida (satisfação       desempenho).O que torna possível que a satisfação seja consequência e não causa do desempenho. (Cunha et al., 2004:137).

Isen & Baron (1991, in Cunha et al., 2004) apontam algumas justificações para a falta de correlação empírica clara entre satisfação e produtividade:
1)      As funções que os trabalhadores desempenham são tão estruturadas que, por vezes, não é possível achar variedade individual suficiente para que as diferenças interindividuais de satisfação originem diferenças de produtividade;
2)      As medidas objetivas de satisfação são normalmente formais (salário, estatuto). No entanto as medidas afetivas como o prazer também podem ter impacto sobre a produtividade;
3)      Este prazer pode manifestar-se por exemplo em maior criatividade, mas estes fatores não podem ser medidos em quantidade/qualidade da produção no curto prazo e estes resultados apenas são visíveis a longo prazo.

Fisher (1980:607) argumenta que “The lack consistent findings on the satisfaction/performance relationship is explained as an aggregation problem. I suggest that specific attitude measures should be related to the favorableness or unfavorableness of an individual’s total set of work-related behaviors”.

Contrariamente a estes estudos, trabalhos mais recentes como os de Staw e Barsade (1993 in Cunha et al., 2004:137) “…revelam a possibilidade de os trabalhadores mais satisfeitos serem também os mais produtivos”. Estes autores consideram que trabalhadores com conteúdos funcionais que abranjam tomadas de decisão ou relacionamento interpessoal têm melhores resultados quando têm maior grau de afetividade positiva[1].

Ainda dentro desta temática, Locke e Latham (1990b in Cunha et al., 2004) apresentaram um modelo mais abrangente integrando a motivação, a satisfação e a produtividade, designado como – Modelo do Ciclo de Elevado Desempenho. Este modelo inclui contribuições de várias teorias, nomeadamente, da teoria dos objetivos, das expectativas, da equidade e características do trabalho.

Na ideia destes autores este modelo consagra os seguintes conceitos:
  • “As pessoas são colocadas face a objectivos desafiantes;
·         Se estes objectivos forem acompanhados de elevada expectativa ou de um elevado sentimento de auto-eficácia, o resultado pode ser um desempenho elevado;
  • Para que tal aconteça, é todavia necessário que as pessoas estejam comprometidas com os objectivos, recebam feedback da actividade, detenham capacidades adequadas e não estejam enredadas em constrangimentos situacionais;
  • O elevado desempenho é propiciado por quatro mecanismos: direcção da atenção e da acção, esforço, persistência e desenvolvimento de estratégias e planos para a execução da tarefa;
  • Se for compensado e portanto compensador, o elevado desempenho conduz à satisfação com o trabalho;
  • A satisfação fomenta, por sua vez, o empenhamento com a organização e os seus objectivos.” (1990b in Cunha et al., 2004:138)


Embora haja alguma contradição e falta de fundamentação no que concerne à correlação entre produtividade e satisfação, atrevemo-nos a concordar com esta perspetiva de Locke e Latham, onde bons desempenhos estão associados a recompensas positivas, monetárias, progressão na carreira ou autorrealização. Este tipo de recompensas gera no trabalhador satisfação com o seu trabalho aumentando a sua lealdade à organização e identificação com os seus objetivos, fazendo com que o seu desempenho seja mais eficaz.
 


[1]As pessoas com elevados níveis de afectividade positiva podem ser descritas como excitadas, entusiásticas, activas, fortes e animadas/vivas. (…) Vêem-se igualmente como eficazes, e tendem a experienciar emoções positivas e estados de humor agradáveis. As detentoras de baixos níveis podem ser descritas como modorrentas , lerdas, vagarosas. Não se sentem agradáveis, nem auto-eficazes, e têm um fraco sentido de bem-estar geral”. (Cunha et al., 2004:137).



Lina Nunes

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